domingo, 14 de fevereiro de 2016

E O BLOG DO RAPOSA VINHA AVISANDO: MATÉRIA DO ESTADÃO: Crise na Usiminas coloca 30 mil vagas de emprego em risco na Baixada Santista

Crise na Usiminas coloca 30 mil vagas de emprego em risco na Baixada Santista

Previsão é do sindicato dos metalúrgicos; empresa pode até entrar em recuperação judicial

14/02/2016 - 08:53 - Atualizado em 14/02/2016 - 09:01

A siderúrgica mineira Usiminas, que mantém operações em Cubatão e Ipatinga (MG), passa por um momento dramático. Altamente endividada e sem caixa para tocar suas operações, a companhia, que já foi um dos principais símbolos da indústria do aço de Minas Gerais e do País, corre risco de entrar em recuperação judicial. O processo de demissões em curso pelo grupo já afeta a economia tanto da Baixada Santista quanto a de Ipatinga.
Em janeiro, a Usiminas suspendeu as áreas primárias de produção de Cubatão (coquerias, sintetizadores e aciarias), desligou mais um dos seus altos-fornos e deve concluir até o fim deste mês o corte de 1,8 mil trabalhadores diretos. 
O anúncio de suspensão das atividades de Cubatão e de cortes foi feito pela siderúrgica em outubro do ano passado. À época, o grupo informou que as medidas tinham de ser feitas para que pudesse “se readequar à realidade do mercado”. Em maio, um dos altos-fornos de Ipatinga já tinha sido desativado. Agora, apenas dois dos cinco estão em operação. 
Em crise, Usiminas suspendeu produção de aço na unidade de Cubatão e irá demitir até 1,8 mil trabalhadores
Fato recorrente
Há pelo menos três anos, a Usiminas tem reduzido suas atividades e demitido funcionários. Procurada na sexta, a empresa informou que não divulga o total de trabalhadores diretos do grupo. Afirmou apenas que as recentes demissões somam 1,8 mil funcionários diretos em Cubatão até este mês. Sendo que, em seu último relatório anual, de 2014, o grupo reportou que tinha um total de 20,2 mil trabalhadores.
Crise no setor
O setor siderúrgico como um todo passa por um ciclo de baixa, como reflexo da superoferta global e baixa demanda da China, maior consumidora de commodities. No Brasil, a situação se agravou ainda mais com a crise econômica. O consumo de aço teve forte recuo com a baixa demanda das indústrias automobilística e da construção civil, sobretudo, como apontam especialistas.
Em situação financeira delicada e com uma disputa societária em curso – os principais controladores, a japonesa Nippon Steel e o grupo ítalo-argentino Techint, romperam relações em setembro de 2014 –, a Usiminas não tem liquidez para atravessar o período mais crítico da crise, de acordo com um dos acionistas do grupo, que pediu para não ser identificado.
A empresa, que vai divulgar na próxima quinta-feira seu balanço de resultados de 2015, está tentando renegociar o alongamento de suas dívidas entre 2016 e 2017, que somam quase R$ 4 bilhões (de um total de R$ 8,1 bilhões registrados no terceiro trimestre de 2015) e corre para tentar vender ativos.
Fontes ligadas à empresa afirmaram, contudo, que ela dificilmente conseguirá fechar as vendas. Entre os principais ativos estão a Usiminas Mecânica (bens de capital), a Musa (mineração) e uma participação na ferrovia MRS, além de imóveis.
Impactos
Os impactos das demissões anunciadas pela Usiminas em Cubatão ainda não atingiram a região com força total, mas serão fortemente sentidos nos próximos meses, avalia o vice-presidente do Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista, Claudinei Rodrigues Gato – desde outubro de 2015, o sindicato já homologou 1,1 mil demissões de associados que eram funcionários da Usiminas.
“A previsão é de que, com a desativação da produção de aço na fábrica, o número de pessoas que ficarão sem emprego possa chegar a 30 mil, somando os funcionários diretos, terceirizados e aqueles que trabalham em empresas que prestam serviços exclusivamente para a Usiminas”, diz Gato.
Mas, para algumas pessoas e entidades, a expectativa pode ser ainda mais pessimista. A Prefeitura de Cubatão, por exemplo, já prevê quedas substanciais na arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e Imposto Sobre Serviços (ISS).
“Em um pior cenário, onde a Usiminas ficaria com apenas 30% de sua atividade, a queda de arrecadação no ICMS seria de aproximadamente R$ 40 milhões por ano (14% do total de arrecadação do tributo). A perda anual com o ISS seria de R$ 37 milhões (16% do total)”, estima a administração.
Famílias
A desativação da produção de aço na Usiminas afetou diretamente a rotina de famílias como a do operador de máquinas Sérgio Claudio Araújo, de 55 anos, demitido no dia 1º de fevereiro de uma empresa de reciclagem de materiais pesados que mantinha 122 funcionários em Cubatão, todos a serviço da usina.
“Não sobrou ninguém em Cubatão, do gerente-geral ao faxineiro. Ainda estou assimilando a pancada, porque meu salário era a única renda da minha família, e avaliando qual rumo tomar”, diz Araújo. “Nós já soubemos de 12 colegas que conseguiram emprego no Ceará e foram embora, mas eu não posso fazer isso, porque preciso pensar nos meus filhos (de 20 e 12 anos) e na minha mulher, saber como uma mudança desse tipo afetará a vida deles”, afirma o operador.
No comércio, a expectativa de retração nas vendas é geral. Para Nery Ambrozio, de 69 anos, dono de um estacionamento no centro da cidade, 2016 será um ano de estagnação. “Nós já percebemos uma redução de aproximadamente 20% no movimento e a tendência é isso piorar, porque tem muita gente indo embora de Cubatão”, observa.
Reações
Desde o anúncio de cortes feito pela Usiminas, o único contato exclusivo entre a Prefeitura de Cubatão e a direção da empresa ocorreu no dia 18 de novembro do ano passado. “Depois disso, os encontros ocorreram na CPI do BNDES, em Brasília, em que a Usiminas foi ouvida, e nas rodadas de negociações no Ministério Público do Trabalho (MPT), onde também estavam representantes das entidades sindicais que representam os trabalhadores”, informou em nota a administração municipal.
Para tentar diminuir o impacto causado pelo fim da produção de aço, a prefeitura reformulou contratos e priorizou os serviços públicos. “Também buscamos novas fontes de arrecadação, porque infelizmente a cidade é muito dependente da produção industrial”, diz Fábio Inácio, secretário de Governo da Prefeitura de Cubatão.
“Em médio prazo, queremos atrair novos empreendimentos e empresas para o município, principalmente os ligados à economia limpa e ao setor de tecnologia. Essa não está sendo uma tarefa nada fácil”, ressalta o secretário.
Em nota enviada à reportagem, a Usiminas disse que “a diretoria executiva está trabalhando para aumentar a competitividade da empresa”, destacando que manteve a área de laminação em operação na cidade. Também declarou que “a desativação das áreas primárias de Cubatão foi necessária, pois o mercado siderúrgico vive a maior crise de sua história”.

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